sábado, 15 de maio de 2010

Histórias do IRONMAN Parte 3 - 2006

Quando nos deparamos com uma realidade fora do nosso controle o mais importante é tentar manter o pouco de equilíbrio que nos resta agindo de acordo com as nossas convicções. Isto é, fazer o melhor que podemos com o que temos e sermos felizes com o resultado obtido.
Após o Ironman de 2005 procurei descansar a cabeça e principalmente o corpo, pois a prova foi devastadora fisicamente e principalmente, psicologicamente. Para tanto me dei umas boas férias nos treinos. O fato foi que estas férias foram longas demais, e por isso, me desmotivei muito para retornar. Aprendi que isto pode ser considerado uma doença chamada "depressão pós-ironman", onde os atletas após realizarem o objetivo de finalizar um ironman não sentem vontade de treinar ou competir pois um objetivo gigantesco foi conquistado. Existem muitos relatos a respeito desta doença na internet, e podem ter a absoluta certeza que é real! Quando se atinge um objetivo como terminar um ironman, a melhor abordagem seria comemorar muito valorizando a conquista e se planejar para o retorno, definindo quanto tempo vai ficar sem treinar, o que vai treinar no retorno e quais serão as próximas competições.
Escrevo isto antes de relatar a minha terceira participação no Ironman pois esta prova me marcou muito por causa desta provável "depressão pós-ironman".
Comecei a minha preparação atrasado com o meu técnico Eduardo Remião. Eu não sentia nenhuma vontade de treinar, e começava me sentir desconfortável em treinar com o mesmo grupo de antes. Comecei a me isolar, comecei a sentir muita irritabilidade quando as coisas não aconteciam como eu planejava. Em resumo, não treinei suficientemente e estava com sobre-peso!
Com relação aos equipamentos utilizados, eu somente mudei os tênis, o que foi uma péssima escolha. Usei um adidas tipo o Supernova que tinha uma correção para pés pronados. Os meus pés estão mais para neutros do que para pronados, então machuquei muito a msuculatura do meu arco plantar. Aprendi a lição de que deveria trocar as meias do ciclismo para a corrida, para evitar problemas futuros, como bolhas. No restante foi tudo igual.
O mais importante nesta prova que eu me inscrevi por que queria fazê-la independente da condição física, foi a importância que eu dei para o objetivo final, que era simplesmente acabar a prova. Eu não tinha nenhuma pretensão ou pressão de me sair bem porque eu não havia treinado. Vocês sabem qual foi o resultado? Foi a melhor prova de Ironman que eu fiz com o pior tempo das três vezes que participei!!! Vocês conseguem entender? Melhor prova com o pior tempo? Vou explicar.
Como a minha única expectativa era terminar a prova, e para isto eu tinha 17 horas para fazer, não tive nenhum problema em estar relaxado. Só para vocês terem uma idéia o quanto eu estava relaxado, eu tive a melhor noite de sono pré-prova de todos. Eu a Niara estávamos hospedados, se não me engano, com o Giorgio, a Pati, Zico e Dedé (não lembro direito). Até recebi uma sessão de acupuntura para relaxar, da Pati.
A prova-
Natação: Sem problemas, saí lá atrás para não atrapalhar os outros e fui bem tranquilo.
T1: Tudo normal, sem atropelos.
Ciclismo: Como eu não tinha nenhum plano ou ritmo para seguir eu simplesmente não me preocupei em verificar a bike. O resultado foi melhor do que o esperado, pois logo na saída para o percurso, quando passei por um quebra-molas o ciclocomputador parou de funcionar. Sei lá, deve ter soltado na viagem para Floripa. Não poderia ter acontecido coisa melhor. Já que eu não estava interessado em seguir nenhum ritmo ou controlar coisa alguma, para que eu iria querer o ciclo funcionando? Foi perfeito!
Lembro também que não tinha muito vento no trajeto mas que estava muito quente. Sofri um pouco por conta da minha "bela e corpulenta" sapatilha da adidas. Meus pés doeram horrores!
T2: De novo com muita calma, realizei as trocas necessárias.
Corrida: Fora a dor que eu estava nos meus arcos plantares, corri com muita tranquilidade. Caminhei em todos os postos de hidratação/alimentação e em algumas partes do percurso. A minha cabeça estava muito tranquila e como eu sabia que a cada passo eu estava cada vez mais próximo do objetivo, eu somente mantive o foco nisso.
Cheguei muito bem, cansado, dolorido mas muito, muito feliz. Encontrei a Niara chorando como se fosse uma conquista dela, e realmente foi! Após passar por muitas dificuldades e incertezas, eu sabia que naquela data o único lugar onde eu gostaria de estar era ali, finalizando mais um Ironman.
O dia seguinte foi reflexo da abordagem que dei para a prova: estava inteiro. Se fosse necessário correr, correria. O meu amigo Zico não conseguia nem caminhar direito pois ele fez a prova perto das 10 horas, e eu fiz em algumas horas a mais. A questão que fica é: quem sofre mais fisicamente: o primeiro ou o último atleta? Naquele dia o que chegou bem depois estava se sentindo bem melhor no pós-prova...
Mais um objetivo concluído onde a capacidade mental de superar as condições adversas foi utilizada adequadamente.
No próximo post sobre as histórias do Ironman parte 4 - 2007, muitas mudanças, afirmações e aprendizados.

Abraço!

OBS.: Só tenho fotos impressas deste Ironman, portando mais uma vez o post ficará sem fotos. Sorry!

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