quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dura adaptação

Estamos morando há uns dois anos e meio aqui em Brisbane, e desde que cheguei tinha, dentre outros, dois objetivos bem claros: conseguir trabalho e treinar triathlon. Bom, o segundo está acontecendo e muito bem, já o primeiro está um pouco mais complicado. Vou explicar porque.
Aqui para trabalhar em academias precisa ter um curso técnico de fitness (certificado ou diploma de fitness) ou um curso superior (Ciências do Exercício). Na teoria parece tudo normal, na prática, muito diferente. Quem tem o curso técnico (3 a 12 meses de duração) trabalha basicamente como professor de ginástica em academias, clubes, em parques, etc. Quem tem curso superior normalmente trabalha como fisiologista do exercício em clubes, clínicas de reabilitação e hospitais. Até aí tudo tranquilo, e então qual é o meu problema?
A minha formação e experiência profissional, no nome, se equivalem ao fisiologista do exercício, mas na prática eu não posso trabalhar como tal pois eu não tenho algumas disciplinas necessárias para pedir equivalência e poder me registrar no orgão regulador da profissão. Por outro lado, mesmo tendo o diploma de fitness, eu não consigo me adaptar ao mercado superficial (na minha opinião) do fitness daqui.
Existem outras diferenças como por exemplo, a maioria esmagadora de personal trainers aqui são autônomos e pagam aluguel para as academias. Na penúltima entrevista que eu passei me ofereceram uma franquia no valor de 1,800.00 dólares, mais o seguro de 700.00 e aluguel de 320.00 por semana. Dá para recuperar este investimento? Claro que dá! Mas após uma minuciosa leitura no contrato descobri que além da duração de um ano (se não tiver cliente tem que tirar o aluguel do próprio bolso e se quiser terminar o contrato tem que pagar a diferença mais encargos), após o término do contrato eu teria que ficar sem aceitar nenhum trabalho em local próximo da academia ou atender ex-alunos da mesma. Muitos outros detalhes do contrato me fizeram desistir da proposta. Na minha última entrevista, me ofereceram um emprego que eu teria que "viajar" pelo menos três horas por dia, para ir e voltar.
O fato que me chama mais a atenção quando eu penso sobre a indústria do fitness aqui é que, no meu ponto de vista, eles tem um conceito equivocado sobre o que é "ser fit" e "ser saudável". O ser fit é muito mais relacionado a imagem que as pessoas tem de ti. Por exemplo: Se eu perdi peso e e as pessoas percebem, eles dizem: "Você parece fit". Quando se relacionam ao quanto estão saudáveis, mencionam como sentimento."Eu me sinto saudável". O problema é quando se relaciona ao fitness eles vendem como se o "fit" e o saudável fossem a mesma coisa e conceitualmente, não são.
E esse é o meu maior desafio para trabalhar por aqui, eu conheço os conceitos e os sigo. Eu não treino um cliente que quer ser saudável buscando melhorar a performance (até onde eu estudei performance e saúde não são sinônimos), e eu não treino atletas para serem saudáveis, eu treino para melhorarem a performance.
Para resumir, eu tenho que disputar um lugar no mercado de trabalho com pessoas que estudaram no máximo 10% do que eu estudei, eu tenho que trabalhar sem acreditar ou concordar como a indústria do fitness funciona  e eu não posso usar plenamente o meu conhecimento.
Sim, estou um pouco estressado com esta situação, mas eu já estou certo no que eu preciso me focar. No final do ano vou fazer o teste de proficiência de inglês (pela terceira vez) e vou me matricular no Mestrado em Fisiologia Clínica. Assim, após 1 ano e meio, eu vou poder trabalhar no que eu sei fazer, ajudar as pessoas a se tornarem mais saudáveis.
Abraço!

Um comentário:

simplifique disse...

Não deve ser nada fácil conviver com isso.
Qeu bom que vc achou a solução.
Sucesso na prova de ingles e no mestrado.
ABS !